Futebol, mandingas e fanatismos

Autor: Randy Alexander
Data De Criação: 4 Abril 2021
Data De Atualização: 14 Poderia 2024
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Futebol e Criança   02 02 2014   004
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Introdução

Uma das facetas mais apaixonantes do futebol tem a ver com as superstições que envolvem o esporte. Torcedores, jogadores, técnicos e clubes têm seus rituais para atrair a sorte para os gramados e afugentar maus resultados. Quem é que nunca viu um jogador fazendo o sinal da cruz ao entrar em campo? Que torcedor não tem suas manias para ajudar o seu time a obter um bom placar em cada jogo? Confira a seguir alguns dos hábitos mais comuns relacionados ao azar e à sorte quando o assunto é futebol.


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Amuletos, patuás e talismãs

A devoção dos torcedores muitas vezes se vê materializada em algum objeto que acreditam atrair gols para o seu time do coração. Em troca de um resultado favorável à sua equipe, é comum usar amuletos como figas e trevos de quatro folhas, ou outros ainda mais originais, como o bumbum do jogador David Beckham. Isso mesmo! O bumbum do jogador virou amuleto do Milan. Tudo porque após marcar seu primeiro gol pela equipe rubro-negra, ele recebeu tapinhas e apertos nas nádegas por parte dos companheiros. Como venceram por 4 x 1, ficou a crença de que apalpar o famoso jogador inglês traria sorte ao time italiano.

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Hora de cruzar os dedos

Até quem não liga muito para rituais de sorte pode cruzar os dedos quando é hora do mata-mata numa partida. Supersticioso, o ex-goleiro argentino Sergio Goycochea ficou marcado por um ritual pra lá de estranho. Antes de começar a cobrança de pênaltis, ele tinha o costume de urinar no círculo central do gramado. Segundo ele, esse hábito começou por acaso. Na primeira vez foi espontâneo, e como o seu time venceu o jogo, ele passou a repetir o gesto cada vez que precisava defender a sua equipe numa disputa de pênaltis.


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Repetir é sinônimo de ganhar

Você usou "aquela" roupa, assistiu o jogo com um determinado grupo de pessoas, comeu tal e outra coisa. Não importa. Se o resultado da partida foi positivo, é bem capaz que automaticamente queira repetir essa mesma sucessão de gestos para perdurar a sorte obtida. John Terry, capitão da Inglaterra na Copa de 2010, revelou ouvir sempre o mesmo disco antes das partidas e sentar no mesmo lugar do ônibus, além de repetir outros pequenos costumes visando sair vitorioso a cada jogo. O lendário goleiro colombiano Higuita só usava cuecas azuis durante os jogos. E o italiano Gennaro Gattuso revelou ter jogado todas as partidas do Mundial de 2006 com a mesma camisa (sem que ela tenha sido lavada para não quebrar o encanto, é claro).


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Corpo fechado

Jogador que se benze antes do jogo ou ainda, toca no gramado e se benze ao entrar em campo é uma cena recorrente para quem acompanha futebol. No Brasil, demonstrar devoção é um ato comum para muitos jogadores, principalmente os evangélicos, mais conhecidos como "atletas de Cristo". Houve época em que a moda era usar camisetas por baixo do uniforme com frases de louvor, que eram reveladas durante a comemoração dos gols. Porém, a prática foi proibida pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e também pela FIFA a partir de 2009.

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Terços, medalhas e santinhos

Jogadores e torcedores colocam a religiosidade em primeiro plano quando só uma força "superior" pode garantir a vitória. Foi o que aconteceu no sofrido jogo entre Brasil e Chile que valia uma vaga nas oitavas de final da Copa 2014. Empatados em 1 a 1 mesmo após a prorrogação, os times partiram para os pênaltis. Victor, goleiro suplente da seleção brasileira, ofereceu ao titular Júlio César o amuleto que acredita ter lhe ajudado na conquista da Copa Libertadores de 2013. O terço foi colocado atrás da linha do gol e o resultado não poderia ter sido melhor: Julio César pegou dois pênaltis, viu uma bola acertar o travessão e foi o herói da classificação do Brasil às quartas de final da Copa do Mundo.

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Beijos e mimos

Outro gesto que costuma ser sinônimo de sorte para os jogadores é o ato de beijar a bola antes da cobrança de uma falta ou de um pênalti. Nesses instantes decisivos, a bola ganha um status quase humano, onde é necessário acariciá-la, tocá-la com carinho e conquistar a sua confiança para que ela siga o curso desejado. Goleiros também têm o hábito de desenvolver essa mesma relação carinhosa com a bola. No caso deles, o que se roga é que a redonda se comporte bem e não queira ir além da barreira imposta por eles. As traves do gol também costumam ser "assediadas" pelos goleiros com beijos, para que protejam o defensor de atacantes mal-intencionados.

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Papa, padres e pastores

Desde que Jorge Mario Bergoglio foi eleito o novo Papa, até a figura papal é invocada quando o assunto é futebol. Torcedor fanático do clube San Lorenzo, o Papa Francisco já virou um amuleto clássico dos torcedores argentinos, que acreditam que o Papa Francisco dá uma ajudinha para a seleção dos hermanos nos momentos decisivos dos jogos. Já no Brasil, era comum que padres, líderes religiosos e pastores organizassem pequenos cultos em algumas concentrações com os jogadores e equipe técnica antes de determinadas partidas. Até em jogos da seleção essa prática era comum. Jorginho, auxiliar técnico de Dunga, organizava cultos religiosos na concentração brasileira durante a Copa da África do Sul em 2010. Porém, essa prática foi proibida pela CBF na Copa do Mundo de 2014.

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Pais de santo, oferendas e mandingas

Num país tão sincrético como o Brasil, todas as religiões têm o seu espaço em se tratando do esporte mais amado pelo nosso povo. Nesse quesito, o clube carioca Vasco da Gama é sempre o mais lembrado por ter tido um pai de santo próprio, o folclórico Pai Santana, falecido em 2011. Massagista, pai de santo e ex-lutador de boxe, Santana chegou ao Vasco em 1953. Com passagens por Botafogo, Fluminense, Bahia e Seleção Brasileira, ele ficou famoso principalmente por sua devoção ao clube de São Januário, a favor de quem realizou "trabalhos" em jogos importantes nas décadas de 1970, 80 e 90. Reza a lenda que em 1977, ano em que o Vasco foi campeão carioca, Pai Santana teria descido de helicóptero na Gávea e colocado uma mandinga no campo do rival.

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Santo padroeiro

Alguns clubes têm sua história vinculada com a de um santo protetor, como é o caso do Flamengo, com São Judas Tadeu, e o Corinthians, com São Jorge. E tanto jogadores como torcedores desses times levam a sério a conexão com o santo padroeiro. O Dia do Torcedor Corinthiano, data que faz parte do calendário oficial da cidade de São Paulo por lei, não por acaso cai em 23 de abril, Dia de São Jorge, “santo guerreiro” de todos os corinthianos. O Dia do Flamenguista é festejado em 28 de outubro e também coincide com o de São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo. Nessa data os rubro-negros peregrinam à igreja do santo, no Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro, para agradecer por graças alcançadas ou pedir por dias melhores para o clube.

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TOC e manias obsessivas

O fanatismo pelo futebol pode levar torcedores, jogadores, técnicos e até dirigentes de clubes a desenvolver manias ligadas à superstição que beiram a insanidade. Um exemplo é a conduta de Cuca, ex-técnico do Botafogo, do Santos e do Atlético Mineiro. Ele é tão supersticioso que quando a sua delegação chega nos estádios, o ônibus nunca pode dar marcha ré. Caso exista algum empecilho, todos desembarcam e vão a pé para os vestiários. Outra mania famosa que ele tem é a de carregar uma bola debaixo do braço para as entrevistas coletivas depois dos treinamentos.

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Numerologia

Alguns nomes ligados ao futebol preferem buscar nas combinações numéricas a magia que pode levá-los a conseguir bons resultados. Nesse ponto, ninguém é mais famoso que Zagallo. O fanatismo do ex-jogador e ex-técnico da Seleção Brasileira pelo número 13 surgiu a partir de sua devoção por Santo Antônio, já que 13 de junho é o dia do santo casamenteiro. Em sua época de jogador, ele não abria mão da camisa 13 e em toda a sua longa trajetória profissional Zagallo sempre relacionou suas façanhas no futebol à sua veneração pelo número 13.